REFLETINDO...

Um dos pontos positivos do Ambiente Informatizado é a integração com os conteúdos de sala de aula. Esta semana combinamos, eu e a professora do A.I , que eu contaria a história do Patinho feio e ela daria continuação com as crianças. Em sala de aula, após contar a história, questionei sobre o que mais gostam em si mesmos e lancei um desafio: Se pudessem modificar algo em seu corpo, o que mudariam? As respostas sempre surpreendem:

-Queria ter olho azul.
-Queria ser branco porque é melhor.
-Queria ter cabelo loiro igual da Ingrid.
-Queria ser grande.
-Queria que tu fosse minha mãe sora.
-Queria ser bonito.
Nestas respostas é possível perceber o quanto há de carência, baixo estima, falta de afeto, aceitação da sua cor ( racismo e preconceito). A fala do aluno que disse querer ser meu filho acredito ser uma questão de confiança e segurança que sentem ao meu lado. Que bom ser uma referência ou ponto de apoio para um aluno. Isso me trouxe alguns pensamentos:
" Se ensina pelo exemplo" " Ainda é possível sonhar" " Através do afeto se chega ao coração do aluno e com isso a engrenagem da aprendizagem se faz".
Percebo também o quanto tem sido valiosa a participação do Bruno nas famílias dos alunos.
Selecionei um relato da aluna Ingrid:
Prof- Conta para nós como foi teu dia com o Bruno.
Ingrid - Quando cheguei em casa botei ele no sofá pra nós dois olhar. Meu irmão foi esquentar a comida ( 9 anos tem o irmão). Só ele que pode mexer no fogo e eu tenho que ficar longe a mãe disse.
Prof - E tua mãe?
Ingrid - A mãe trabalha o dia todo e nós ficamos sozinhos. Eu "barro" a casa e o mano lava a louça.
Profe - Como é o nome daquilo que tu usa pra varrer a casa?
Ingrid - vassoura!
Profe - VAssoura VArre. Então o que tu faz com tua vassoura? Tu varre ou tu "barre?
Ingrid - Varro sora (risos) Quando a mãe chegou em casa tinha duas visitas que vieram junto e se assustaram quando viram o Bruno no sofá.
Profe - O que tu mais gostou na visita do Bruno ou oque tu não gostou?
Ingrid - Gostei de brincar com o Bruno mas não gostei que meu mano bateu na cara dele e minha mãe não deixou eu dormir com ele. Ela deixou o Bruno dormir com ela!!!
Ao ouvir este relato entendo a maturidade que os alunos apresentam. Tão precoce é essa maturidade. Quanta responsabilidade naquele corpinho! Filhos de pais separados e com uma carga de compromisso que começa em acordar ao toque do despertador que a mãe já deixa ligado, depois os cuidados em proteger a irmã para que ela fique bem longe do fogo, cuidar da casa porque quando a mãe chegar tem que estar tudo arrumadinho. E a atitude violenta do irmão em relação ao Bruno, acredito ter sido uma forma de aliviar a raiva ou falta de ter alguém para "bater". Criança quer e precisa de espaço para brincar e o "culpado" por isso não pode receber a agressão. Na verdade aquele soco na cara do Bruno poderia ser transferido para o pai deles que abandonou a mãe e tem outro filho. Infelizmente essas questões são frustrantes e tão íntimas ao mesmo tempo que são tão comuns.