13 de junho de 2010

Momento de emoção

Realmente o planejamento deve ser flexível.
Um momento que mexeu muito com a emoção da turma foi o dia que estava explicando sobre gênero masculino e feminino. Falava sobre os animais que para se reproduzir, terem filhotes, precisam ser um masculino e outro feminino ex: o gato e a gata, o coelho e a coelha, o leão e a leoa e assim por diante (todos iam participando  em coro). Aproveitei o momento para falar sobre as atitudes de cada um em sua casa, em sua família, falei sobre a importância de ser útil, lavar uma louça, arrumar a cama, enfim, disse que todos gostam de ter uma criança educada e prestativa por perto, então o aluno Bruno levantou a mãozinha e falou:

- MEU PAI NUNCA MAIS VEIO ME VER. ELE ME ENCHIA DE CARINHO E AGORA ACABOU...ACABOU TUDO. (ele tremia o queixo e encheu os olhos de lágrima). Após este desabafo a turma ficou num silêncio que parecia estar vazia. Fui então até a mesa do Bruno e falei: - Bruno, não é bem assim, os adultos estão sempre sem tempo, quem sabe teu pai está trabalhando muito e não consegue ir te ver. Mais uma vez ele complementou:
- MINHA MÃE TEVE TRÊS FILHOS. 2 FICOU COM A MÃE E UM FICOU COM O PAI. ELES BRIGARAM E MINHA MÃE FOI EMBORA COMIGO E MEU IRMÃO. MEU PAI ME CARREGAVA NA CACUNDA, ME ENCHIA DE CARINHO, MAS AGORA...
Os alunos se emocionaram com toda essa conversa e logo alguém sugeriu pra ele escrever uma carta para o pai, outro disse que deveria telefonar e pedir pro pai pegar ele na cacunda novamente. Na sua tristeza e saudade profunda, o aluno desabafou e disse que pode ligar para seu pai pois tem crédito. Aí quando perguntei se ele poderia falar do seu sentimento para seu pai, ele insistia em dizer : - SIM, SIM EU TENHO CRÉDITO. Neste dia, conseguimos trabalhar o gênero das palavras, mas trabalhamos muito mais que isso. Trabalhamos solidariedade, respeito, amor, compaixão, amizade, conflitos de família, carência, e por que não dizer, trabalhamos também sobre crédito (o que é ter crédito? para usar o celular precisamos de que? ...).
Dos meus vinte e cinco alunos, 11 são de pais separados, dois tem o pai falecido, um é órfão de mãe viva, mas mora com o pai e um afirma que a mãe e o pai dormem juntos mas são separados( não entendi, mas nem quis questionar para não gerar mais confusão na cabecinha do menino). A realidade das famílias atuais é diferenciada do modelo de família que tínhamos há poucos anos atrás.
O que fazer? Acredito que o fato de OUVIR estas crianças, seus medos e angústias pode fazer a diferença, claro que a família pode e deve auxiliar neste processo. No dia da entrega de avaliações, conversei em particular com a mãe do menino que chorou e disse: - "Como eu não percebi que ele sente tanto a falta do pai. Então é por isso que ele anda tão agressivo e inquieto.Vou conversar com o pai dele amanhã mesmo".
Muitas vezes passamos a ser uma ponte que liga o filho a sua mãe.

Um comentário:

mauranunes.com disse...

Talvez possamos pensar que muitas vezes podemos ser uma ponte que liga a criança com seu sentimento... assim, de alguma forma, ela finalmente consegue se expressar. Como bem disseste, a melhor intervenção é ouvir mesmo. Quando a criança sente que é possível ser escutada, nos surpreende com sua espontaneidade. Isso é fruto de um trabalho que inspira confiança, Eliane. Bjs, Maura - tutora do SI